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Frio na barriga e desenvolvimento: tem relação?


Relato sobre como as diversas formações de multiplicadores do Programa Talentos de Futuro me impactaram e ainda me impactam. Por Ana Carolina Ferreira | diretora, coordenadora pedagógica e educadora


Nos últimos meses – e isso acontece comigo de tempos em tempos – tenho pensado bastante acerca da minha experiência profissional. Nessa altura da vida já posso dizer que ela é relativamente extensa em tempo, mas principalmente em experiências, e rever essa trajetória sempre me traz muitas reflexões sobre as escolhas, os encontros, os aprendizados, os desafios e os desenvolvimentos – meu, da minha equipe, da minha empresa, dos nossos parceiros e dos beneficiários das ações que realizamos.


Em uma dessas reflexões pude perceber que algumas atividades, mesmo que já venham sendo realizadas há anos, ainda geram aquele “frio na barriga” do começo. E, sinceramente, acho que gosto muito delas também por isso. Não que eu queira jogar fora toda a “bagagem acumulada” ao realizar algumas atividades por muitas vezes e em muitos formatos, pelo contrário, isso ajuda a refinar a ação, mas a sensação de que sempre vou aprender algo novo e, por isso, é preciso estar ali inteiramente, me alimenta demais.


No final do mês de agosto deste ano eu senti esse frio na barriga intensamente de novo ao realizar mais uma formação inicial de multiplicadores do Programa Talentos de Futuro. Sem querer me estender demais, vou contextualizar brevemente o que é essa ação para permitir que quem me lê consiga me acompanhar. O Talentos de Futuro é um dos programas sociais do Instituto Algar e tem como foco ofertar oportunidades de desenvolvimento comportamental e técnico para jovens, por meio da realização de atividades dinâmicas e reflexivas sobre temas importantes para a vida e para o mundo do trabalho. Nós somos a assessoria educacional desse programa desde 2016 e um dos nossos papeis é formar e acompanhar os educadores sociais das instituições parceiras que aplicam o programa em suas realidades – os multiplicadores.


Retornando ao frio na barriga, ele esteve presente desde o princípio dessa atividade, que foi em 2017. Naquela época tínhamos o desafio de expandir o programa para além das formações para jovens oferecidas diretamente por nós e eu sugeri à gestão do Instituto Algar que fizéssemos isso em parceria com algumas OSCs da cidade de Uberlândia. Com o aval do Instituto, procurei algumas pessoas conhecidas - as quais eu tinha algum relacionamento profissional e que eu admirava o trabalho das organizações - e propus essa parceria: a gente forma os educadores de vocês e eles aplicam o programa com os jovens. A primeira formação, em julho de 2017, foi um dos ápices do início da Partilha, tanto em expectativas, quanto em dedicação, preparação e resultados.


A questão é que o frio na barriga não parou por aí! Em 2019 a gente foi aplicar esse modelo em 03 capitais estaduais e em uma cidade grande de São Paulo. Lembro-me exatamente do quanto saí exausta da primeira formação em Fortaleza-CE e não era apenas sobre cansaço, era sobre responsabilidade, inteireza e dedicação. Em 2020, com esse modelo consolidado, veio a pandemia e o distanciamento social e aí o frio na barriga não era mais a formação em si, mas em relação à manutenção do vínculo com esse público tão caro para nós e tão sofrido e sobrecarregado naquele momento.


Em 2021, uma grande virada de chave: o desafio de transformar a formação presencial, intensa, cheia de movimentos e emoções em uma formação em formato remoto. O conflito entre ter medo de não funcionar e a vontade imensa de que desse certo me fez ter várias noites de insônia. E a formação funcionou! Acho importante pontuar que nesse momento eu já não executava mais as formações sozinha e muito do que elas cresceram em qualidade se deve às contribuições de duas pessoas fundamentais da equipe: Ludimila e Aline Alves. O que inicialmente também gera um frio na barriga, pois é uma nova construção, com novos arranjos e novas possibilidades, ou seja, novidades!


Pronto, frio na barriga suficiente? Foi quando percebi que em 2023, com mais de 10 formações tendo sido realizadas, ele estava lá, firme e forte! A questão agora já não era mais a inexperiência e o desconhecimento sobre o mundo virtual ou as novidades que a formação foi ganhando, mas a diversidade de organizações que iriam participar. Instituições que foram selecionadas por um outro parceiro, com todo o processo à distância, tendo atuações diversas e espalhadas por todo país. E isso me fez refletir muito sobre a natureza dessa atividade.


Durante todos esses anos, eu aprendi muito com as organizações e, principalmente com os educadores sociais que formamos. Tantas histórias de vida, tantos contextos adversos, tantas concepções de mundo, tantas estratégias de sobrevivência e resistência me ajudaram a ser a profissional e a pesquisadora que sou hoje. Essas formações, muito mais que instrumentalizar as pessoas a utilizarem as metodologias e a realizarem as atividades do programa, são oportunidades extraordinárias de formação para muita gente, inclusive para mim.


Ter a oportunidade de conhecer tudo isso e ainda contribuir com tanta gente que eu nem conheço é o que me faz ter esse delicioso frio na barriga. O compromisso com as pessoas, com as instituições, com o que eu vou dizer e como farei isso, com as nossas propostas pedagógicas e com tudo o que as sustentam é que, ao mesmo tempo que me mobiliza, me deixa com essa inquietação e com a “necessidade” de estar ali inteira, presente, para aprender e construir. Sou muito grata a tanta gente que me permite fazer esse trabalho, a tantas pessoas que me ouvem com respeito e confiança e especialmente à minha equipe que me ajudou a chegar até aqui.

Que tenhamos sempre muitos frios na barriga!



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